CARTA DE POSICIONAMENTO À ESQUERDA

Nós, da coletiva MULEsta, denunciamos a busca de apoios à direita e centro-direita da candidatura de Marília Arraes (PT) E João Arnaldo (PSOL); ao aceitar e publicizar apoios de partidos como o Podemos, de Ricardo Teobaldo, e os Partido Liberal, de Anderson Ferreira, ambos ligados ao EleNão Presidente Nacional e apoiadores do golpe. Nada adianta termos a primeira prefeita mulher do Recife se as alianças não são localizadas no debate dos movimentos sociais. Está no currículo deles o dito Estatuto da Família, que diz que famílias LGBTQI não são família, desconsiderando suas pessoas físicas e contribuindo para sua marginalização social. Também está a Reforma Administrativa, que pretendia reduzir os direitos trabalhistas e sucatear ainda mais a atuação do Estado nas carências da população. E junto a Bancada da Bala pretendem armar a guarda municipal, quando sabemos que esta ideologia de segurança só vulnerabiliza a juventude negra. Receber o apoio de parte da Bancada Evangélica significa colocar em perigo a autonomia de nossas corpas, é colocar em risco os serviços de abortamento legal, a luta das mulheres e afeminadas pelo direito de existir, é alimentar o fundamentalismo religioso que ameaça a vida dos povos de terreiro e as religiões de matriz africana. Receber apoio da família Ferreira é colocar um alvo nas costas das mulheres, das pessoas LGBTQIA+, das pessoas negras e dos povos indígenas. Assim como receber o apoio do usineiro Armando Monteiro significa ignorar as muitas famílias que se sustentam na agricultura familiar urbana, é ignorar o passado escravocrata de nosso estado e fortalecer o coronelismo contra o qual lutamos a tantos séculos.

A falácia que a política partidária prega de coligações que desvalorizam os interesses das trabalhadoras e estudantes por um suposto bem maior, na verdade só garante a permanência de interesses contrários à população e em benefício às elites e a manutenção do poder nas mesmas mãos. Estas coligações que simulam um benefício a curto prazo geram somente perda de dignidade daquela que se submete; mais grave é a situação da população submetida novamente ao escárnio, à miséria e violência. Os liberais e conservadores querem nos rebaixar: nos precisamos responder que nosso lugar é no poder popular. Estamos e estaremos na luta e na resistência.

Se a candidata Marília Arraes espera nosso apoio, ela precisa se aliar com as pautas de esquerda, e não tomar café com QG fascistas transfóbicas. Precisa acordar por direitos reprodutivos como as grandes nações latinoamericanas vem fazendo, garantindo direito ao corpo e ao aborto, às crianças contra violência e pela adoção; pela sexualidade livre de discriminações; por ruas e espaços públicos com acessibilidades para todas as corpas; acordar acesso à moradia popular, ao saneamento básico e à defesa da água, do meio ambiente e animais não humanos; pela ampliação de direitos trabalhistas; concurso público com cotas para negras, PcDs e pessoas trans; e pela garantia de permanência de estudantes negras LGBTs. Precisa acordar pela valorização da diferença, na garantia dos direitos conquistados; e na efetivação de espaços de participação popular. Nenhuma aliança partidária é gratuita ou meramente estratégica, é sabido. Então queremos perguntar a nossa futura prefeita se o seu compromisso é com as trabalhadoras e com os ideais a esquerda ou apenas com a manutenção do seu próprio poder?