Ferramentas à luta anticapitalista e antissistêmica

Do século 15 ao 19, durante o tráfico atlântico, pessoas pretas foram transformadas em mercadoria, forçando essas pessoas de forma violenta à submissão – que é um modelo de exploração do capital. Só no Brasil, foram quase 400 anos de trabalho escravo durante o período colonial, onde pretos, pretas e pretes passaram a ser a principal moeda de troca durante o governo português. A abolição não significou liberdade para a  população preta, que não foi incluída na sociedade. Abandonaram a mão-de-obra dos libertos e adotaram a dos imigrantes europeus, como também abandonaram seus corpos, deixando-os à própria sorte; sem emprego, sem casa, sem dignidade.

Ao longo daqueles anos, homens, mulheres, não-bináries e crianças negras ocuparam posições de inferioridade e postos de trabalho precários, enquanto o racismo passou a ser usado como narrativa para o rebaixamento dos custos da força de trabalho. Nesta consolidação do capitalismo no país e para sustentar da burguesia, criou-se a falsa imagem de democracia racial que apagaria as desigualdades impostas historicamente através da miscigenação. A realidade é que até hoje os povos negros brasileiros têm direitos básicos como saúde educação e moradia negados.

Diante deste cenário de exploração e expropriação da colonização brasileira, nossa luta anticapitalista visa a construção de uma sociedade livre de desigualdades, opressões, domínios, explorações de todas as corpAs humanas e não humanas, buscando superar o sistema/CIStema, destruí-lo e construir, através do poder popular, formas de cooperação e convivências baseadas em liberdades e autonomias.

A partir do momento em que os próprios movimentos sociais passam a fazer parte da manutenção do atual pacto social de desigualdades, cadastrando, classificando e gerindo a miséria como braços estatais, eles perdem assim sua potencialidade de enfrentamento à ordem, reforçando os elos de dependência entre trabalhadoras e o Estado, entre trabalhadoras e indústrias de exploração, em vez de nos oferecer vias de escape e possibilidades de construção autogestionadas e autônomas, de alternativas libertárias e definitivas ao fim do capitalismo.

Superar o capitalismo, do ponto de vista econômico, é superar a mais-valia; do ponto de vista filosófico, é superar a alienação das classes; do ponto de vista político e organizativo, é superar a hétero-organização racial, supremacista e especista, priorizando a auto-organização de trabalhadoras. Como lutamos contra algo que nos é dado antes do nosso nascimento e que parece invencível? Ao olharmos para trás é comum pensarmos que o capitalismo é algo indestrutível, que muites antes de nós tentaram – sem consolidação – outras formas de produção. Tivemos revoluções e guerras, outras teorias foram pensadas, mas a prática nunca nos parece o suficiente, nos sentimos o tempo todo esmagadas pela “mão invisível” do mercado. Porém, ao nos atentarmos aos grandes fatos históricos, acabamos ignorando as pequenas resistências, as ferramentas criadas burlando os sistemas, as resistências múltiplas – microfísicas / micropolíticas – que até hoje se recusam a se subjugar ao cis-hétero-patriarcado racista especista. Esquecemos de olhar nossas companheires cubanas, zapatistas, palestinas e curdas, que permanecem em uma guerra constante contra o status quo capitalista. Esquecemos das pequenas resistências cotidianas, dos yomangos (ato político de furtar estabelecimentos comerciais), das outras opções de consumo fora do grande mercado, das organizações coletivas. Esquecemos das ferramentas virtuais desenvolvidas por gente que acredita que a socialização dos diversos saberes, a segurança de dados e a liberdade dos códigos são a verdadeira arma que internet pode nos render, esquecemos des pequenes produtores agroecológiques, das moedas locais, do escambo e da agricultura familiar, esquecemos dos boicotes às grandes indústrias que constroem um ciclo vicioso de adoecimento pela alimentação e a venda de um falsa cura por medicamentos.

Então a pauta imediata é um meio de mobilização, de chamar a atenção para as necessidades de organização e da luta.

Através da organização coletiva, caímos sempre na mesma ladainha de que os movimentos revolucionários não fazem trabalho de base. Fazemos o trabalho de base ao trazermos os significados coletivos – reconhecimento e pertença trabalhista – através da empatia às necessidades da classe explorada e não de indivíduos. Cansaço, fome e apagamento são protestos coletivos. A noção de exploração e de sofrimento é sentida por todes que fazem a chamada base da pirâmide social. Lembramos que é nesse momento que organizações através de movimentos de solidariedade conseguem quebrar o braço repressor do Estado. Apreendendo a consciência de classe, a sujeita passa a questionar a falácia do empreendedor individual, da batalhadora que tem dois empregos, do sacrifício para obter o mínimo de Direito(s), e passa a compreender que não devemos ser apertadas por um sistema expropriador e explorador. Compreende que sua vida não pode ser pautada em imposições do capital, nem o que se veste, se come, se ama.

Na organização coletiva, passamos pelo medo da repressão dentro de um Estado que animaliza corpAs, normaliza a violência policial, a exploração e matança de animais humanos e não humanos para o lucro. É importante compartilhar que a animalização (condição animal, e seu valor inferior) é um projeto de hierarquização eurocêntrica, que contribuiu e contribui para a opressão de todas as corpAs que não encaixam no padrão da supremacia branca na qual homens brancos se auto determinam representantes da humanidade e definem quais corpAs estão fora da condição de “humano”, da sua lei e sua moral, como “sub-humano”, “desumano”, “não humano”, “animal”. Autorizando a violência, repressão e a necessidade de controle para com essas. Esse conceito, utilizado para defender a exploração dos animais não humanos, foi o mesmo que justificou a exploração de corpAs pretas e indígenas no período colonial e que hoje abrange outros grupos dissidentes. Partindo daí, é fácil perceber a intersecção das lutas e o inimigo comum.

Muitos coletivos ditos anticapitalistas ainda se distanciam da práxis e seguem na recusa de ajudar outres, como com a distribuição de alimentos e hortas comunitárias; apoiam ainda o encarceramento de pessoas; delimitam sua ação na linguagem academicista e binarista; exploram ou financiam a morte de animais, deixando de discutir a pauta antiespecista dentro dos movimentos; hierarquizam as lutas entre si; e seguem acreditando que a Revolução vai acontecer espontaneamente.

A construção das revoluções é através da participação e organização popular, trazendo primeiro a construção de uma classe trabalhadora fortalecida para que, através de suas inquietudes perante os abismos sociais, possa agitar seus pares, parceiras, pariceiras, para resgatar sua identidade, narrativa e territórios, e juntes encontrar permutas e economias anticapitalistas, baseadas na autogestão y autonomia dos povos.

 

Próxima Quarta (08/07), às 20h tem bate papo ao vivo mediado por Lara Buitron, militante feminista interseccional e anarquista da @coletivamulesta, e convidada Leilane, militante sindical da educação e membra da organização anarquista Maria Iêda, sobre a luta anticapitalista e antissistêmica. A Live será transmitida pelo Jiitsi (o link estará disponível no instagram @coletivamulesta, no dia 08/07).

 

Próxima Quarta (08/07), às 20h tem bate papo ao vivo mediado por Lara Buitron, militante feminista interseccional e anarquista da @coletivamulesta, e convidada Leilane, militante sindical da educação e membra da organização anarquista Maria Iêda, sobre a Luta Anticapitalista e Antissistêmica. A Live será transmitida pelo Jiitsi (o link estará disponível no instagram @coletivamulesta, no dia 08/07).